Conflitos armados custam a África tanto quanto as ajudas internacionais
O custo de vários conflitos africanos durante uma década e meia foi no mínimo equivalente às ajudas que o continente recebeu durante o mesmo período, de acordo com um estudo apresentado ontem pela organização não-governamental Oxfam.
O caso da Guiné-Bissau no fim dos anos 90 é um dos mais clamorosos: o crescimento devia ter sido positivo e caiu para um nível desastroso. A investigação, intitulada Os Milhões Perdidos de África, concluiu que o custo dos confrontos da região entre 1990 e 2005 alcançou 300 mil milhões de dólares, cerca de 18 mil milhões por ano, um recuo das respectivas economias em cerca de 15 por cento. E que os números são suficientemente assustadores para serem levados em conta pelos diplomatas reunidos em Nova Iorque para debater um tratado sobre comércio de armas. O balanço, feito, além da Oxfam, por outras duas organizações não--governamentais, a Rede de Acção Internacional sobre Armas Ligeiras e a Saferworld, diz que, "com quase toda a segurança, a metodologia de análise utilizada subestimou a realidade", por não incluir, por exemplo, o impacto económico dos conflitos nos países vizinhos, salpicados pela insegurança política e um fluxo repentino de refugiados.
Os Estados estudados foram 23. Mas os afectados foram seguramente mais. Além disso, afirmam os signatários, o estudo cobriu só os períodos de combate, quando muitos dos gastos das guerras, como o incremento das despesas militares e as dificuldades económicas, continuam por muito tempo depois de terminado o conflito. Quer dizer, aos custos directos dos conflitos há que somar os indirectos, como a inflação, a dívida, o desemprego, o desvio para particulares, no meio da confusão, das receitas de exploração dos recursos naturais. E o mais importante de todos, não contabilizável: as perdas humanas.
Um dos exemplos do descalabro foi o conflito da Guiné-Bissau de 1998-99. A economia do país devia ter crescido 5,24 por cento antes da guerra. No fim, a sua taxa real foi de menos 10,15 por cento. "Este é um dinheiro que a África não se pode dar ao luxo de perder", escreve no prólogo a Presidente liberiana, Ellen Johnson-Sirleaf. "A violência armada é uma das grandes ameaças para o desenvolvimento de África", afirma no documento um dos analistas da Oxfam, Irungu Houghton. O dinheiro perdido "poderia ter resolvido a crise do HIV-sida, prevenido a malária e a tuberculose, proporcionado água potável, sistemas de saneamento e de educação para a população", afirma.
A arma mais utilizada nos conflitos africanos é a espingarda de assalto Kalashnikov. Quase todos os seus modelos são fabricados fora de África. As signatárias afirmam no balanço que os esforços dos países africanos para controlar as transferências de armas têm de ser seguidos por um tratado sobre comércio de armas global e vinculante.
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