Pequenos excertos daqui:
Fala-se da crise actual, por exemplo, como se tudo não passasse de um filme, entre a "chegada" e o "fim" da crise. Durante meses, o assunto foi saber se ela já tinha chegado e, depois, passou a ser saber se ela já tinha partido! Tudo ao som de comentários e previsões de "especialistas" que antes não foram capazes de prever nada, mas mesmo nada do que aconteceu.
O desafio é pois o de, para lá da crise e do seu espectáculo, se procurar compreender as metamorfoses do mundo que mais condicionam as nossas opções.
Em 2008, dos cerca de 2300 mil milhões de euros que se transaccionavam diariamente nos mercados financeiros, apenas 2,7% correspondiam a bens e serviços reais!
A "ideologia dominante" do capitalismo financeiro foi abalada, mas não foi desafiada por nenhuma alternativa que os cidadãos considerem interessante, consistente, motivadora.
Esta reflexão, e as propostas que daí podem resultar, são as alavancas que faltam à esquerda democrática na actual crise. Clarificar o sentido do interesse geral, redefinindo o âmbito das esferas pública e privada. Repor a finança ao serviço da economia e das pessoas. Repensar o desenvolvimento, tanto na sua articulação com o emprego como com os imperativos ecológicos. Combater as desigualdades, sejam elas salariais ou de rendimento, de acesso ou de estatuto. Avançar com um novo internacionalismo, porque hoje nenhum problema tem solução nacional. Revitalizar a democracia, valorizando as diversas formas de legitimidade que a atravessam... eis alguns dos tópicos dessa agenda.
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